Orelha de "Natal de Herodes", de Wladimir Saldanha


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Wladimir Saldanha, em seu quarto livro, leva adiante seu intimismo universal, em que referências literárias, mitológicas e históricas se imiscuem na matéria biográfica, criando um jogo de reverberações por meio do qual o indivíduo e a cultura se fundem numa só carne, e as reminiscências pessoais se diluem na memória coletiva da tradição. Tal modalidade de comunhão — que, de resto, corresponde a um desejo de transcendência que atravessa toda a obra — aponta, em Natal de Herodes, para uma tentativa de redimir a ausência da figura paterna, vertiginosa trinca da arquitetura psíquica que o autor esboça ao longo dos poemas (como se vê claramente em “Se não tenho pai, se ela usa túnica”).

T.S. Eliot diz que a poesia “não é a expressão da personalidade, mas uma fuga da personalidade”, uma fuga que se dá através da tradição. Porém, ao se apropriar da cultura, impregnando-a de suas vivências, o poeta é capaz de dar-lhe um sentido psicológico próprio, convertendo figuras históricas e do imaginário popular em mitologia pessoal. É essa sutil e difícil química que Wladimir Saldanha logra obter, colocando-se na companhia de grandes nomes de nossa poesia, como Jorge de Lima e Bruno Tolentino.

Merece destaque, também, o excelente e peculiar trabalho do ilustrador Felipe Stefani, que, com suas linhas revoltas, sugere uma diafaneidade das figuras, ao mesmo em que empresta a elas a materialidade do risco como tal. Essa tensão entre o espiritual e o sensível dialoga muito bem com a inquietude metafísica que anima o conjunto de poemas.

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